domingo, dezembro 16, 2007

Nunca Tive Fotos

nunca tive fotos
nem por isso.
tinha mesmo
cartões
ou de passeios,
viagens.
paisagens de lembrar.
nomes em livros.
nunca tive fotos
ou decidi que teria
foi só por ser.
se todos distantes
e eu longe,
palavras mas
nunca tive fotos.

sábado, novembro 03, 2007

Cem Olhos Lupinos





andei miraculando santos
e permaneci intacto
ou sem toques
cremado de loucos
porém mais forte,
'' ou menores, dependendo
de suas nescessidades energéticas"


pode
lançar o seu nojo
em qualquer pele
elegendo


parecia que se se tornava
a voltar
mexia com forças,
do medo dos ditados


Se na sua boca
eles saiam mais
entornavam menos carícias
que medos, na minha










um blog encerrado, de cinema, muito bom

domingo, outubro 28, 2007

Pena de Ninguém


Não quebro ossos
por querer
Nunca digo que
esse é o meu trabalho
eu, raro, faço o tempo
raspar minha cabeça,
Todo sol em sua roupa
entre o
Sintoma parado e
a contínua medida
que é aqui.

domingo, agosto 26, 2007

Que se perca


parece
que não se
encontra nada
dentro deste sapo, nesta
boca costurada
querer procurar
em gavetas?
eu sei o que você
faz com espelhos.
seus
dos outros

quinta-feira, agosto 02, 2007

Imitam loucura. Amor

sem dizer palavra
é que é.
dizendo o que
mais tinha.

sem morte
dúbia

anástrofe, dos encantos
dos olhos
Não sei por antes se são
lunáticos e sensuais

concluíram trechos da minha alma
sem saberem, também era meu corpo

e só descubro depois desses horários,
quando me contam o que era.
como todo míope, não vejo o tamanho
certo das coisas, eu não sei o tamanho
certo das palavras
subscritos alienígenas ou
ênfase nutrida do escuro

nas suas mãos manicômios,
feitos um de cada vez,
ilustrações
alma corpo, uma coisa só
movimentando-se

domingo, julho 22, 2007

me trazem

Verborarar o caminho
ser do destino do tempo

Tempos que simulam
loucos

Planificar ramos,
tirá-los do rosto
ver o âmbar dos rostos

Naves espaciais que levam
me trazem

Criar fósforos de meus ossos
pra me iluminar?
Saber do abstrato que
existe, e o que palpável é tão.

Que devolva os remorsos,
pequenas vinganças aconteçam

Eternizar nem que em foto ou vídeo
ou olhos
tudo que há em um pedaço de terra,
segundos, sofrer ou não — mais:

Caminhar verbando destinos
mesmo os incompreensíveis,
porque disso é que vou.

sábado, junho 16, 2007



Avítima morrando

terça-feira, maio 22, 2007

quinta-feira, maio 17, 2007

(como citizen outland)


















heavenly creatures,

filme de Peter Jackson, revelou duas ótimas atrizes, Melanie Lynskey, Kate Winslet. Baseado em caso real.



sexta-feira, maio 04, 2007

Citizen Outland #2

Tiros Em Cemitério


"De sorte que hoje o sol deu uma trégua", foi o que a vítima teria dito logo ao entrar na necrópole. Essa ausência do sol era formada por uma grande nuvem que cobria o cemitério. A vítima acompanhava um enterro, as informações sobre quem era enterrado no momento do crime foram mantidas em sigilo.
Um outro homem que acompanhava o cortejo tirou do bolso um revólver que quase lhe caiu da mão que estava suada, apontou para R.S., que levou 20 tiros, percebeu o atirador quando se virou e já tinha levado dois tiros.
Houve tumulto forte. As crianças, pessoas, homens e mulheres gritaram, se desesperaram. O morto original (aquele que estava sendo cortejado) foi carregado por vários lados enquanto os tiros eram dados em só uma direção, Por fim e por medo foi deixado caído no chão dentro de um belo caixão e totalmente sereno.
A vítima tombou e " Já na queda estava morta", como afirmam os funcionários. O Assassino foragido, ainda não identificado, atirava e atirava, tendo que , por serem 20 tiros, carregar seguidas vezes a arma o que pode demonstrar raiva. A mão do assassino " Sangrava " por causa do aquecimento da arma, como revelaram testemunhas. O corpo não foi levado ao IML (Instituto Médico Legal) que fica ao lado do cemitério e sim ao hospital onde o óbito foi confirmado.
A violência chega as necrópoles, onde é comum furtos (até de famosos) e agora até homicídios. Mas a Polícia Militar desconversou e afirmou: " Este foi um caso particular de 20 tiros".
Não sabemos se este ‘ particular’ dito pela polícia seja um indício de que o crime foi comercial. Porém nós esperamos que mortes não venham mais acontecer nos cemitérios.
26/Ab/2007/

quinta-feira, maio 03, 2007




I look
a thump
desolate through
again, i rove
miracle rusty


Oliver Dee

quinta-feira, abril 19, 2007

Citizen Outland #1





Sacoleiras
As sacolas faziam um barulho insuportável para o cachorro que saiu fugido de dentro do ônibus aos gritos da dona que mandou seu filho atrás e disse " vai atrás dele e não precisam vim junto" o filho com protestos como: "Mas mãe eu quero ir". Ele acabou indo atrás do cachorro chamado tubarão. Isso em Recife. O calor impune não estragou as muambas tão falsificadas mas não estragáveis como disse um popular depois "Mas não estragavam fácil, o senhor tenha certeza". O ônibus partiu com as sacoleiras, o motorista muito mudo mais do que o normal não disse certamente o que queria também como a maioria das mulheres. Subindo a estrada mal feita de poeira seca. A mãe do menino que saiu consolava uma que chorava manso por causa dos cornos que o namorado lhe colocara e a outra dizia "Não se preocupe você é muito moça" . Das Cruzes, mulher já de idade que estava sentada atrás da moça chorosa já não mais suportava ouvir os lamentos, levantou e teve uma vertigem forte quando o veículo balançou e também quando viu o barranco que se estendia e não estava acostumada.
Gritos não estridentes e sim incrédulos, como se não acreditassem. Disse um popular depois do acontecido "Isso não acontece normalmente" e parece que isso era o argumento que fazia com que os parentes das vítimas colocavam sua fé, acreditando que elas estivessem vivas.
Morreram todas sacoleiras e o motoristas quando caíram de um barranco durante cem metros. Nas imagens tele visionadas as muambas não apareciam e não foram vistam assim como as sacolas.
18/Ab/2007/
me fazer de triste morto
e eu em pedra peço
os olhos se acham:
de mais de uma pessoa
duas três quatro
ou nem cinco
doses de morte
o que abrange não
importa não há mais
vermelho de sangue
e de olhos
sou material, vivo aqui
e meu espirito é seqüestrado
em lances de escadas
caídas e possíveis dormentes
de trilhos: para personagens
que se encaram, não me olham
cinco seis sete
e que há de tanto assim
pra que mais de uma
vez nasçam cada hora
certezas impunes

sexta-feira, abril 13, 2007

Vejo Meu Cérebro

Me diziam há tempos garoto não vai por aí. Hoje um cara de olhos muito vermelhos perto de um bar me parou e perguntou se eu não tinha um real pra dar, não tenho, disse baixo, fiquei com medo, senti minhas mãos suarem assim como as minhas costas e isso depois, depois de já estar totalmente seguro. E isso não condiz com o que eu era, é claro que lembro muito daquela época, mas não passo mais tanta fome quanto passava. Nem passo mais fome, longe disso. Tenho dinheiro que não sei onde colocar. Andando e pensando é o que faço agora. Tudo parece igual: as ruas e casas, são diferentes, mas num mesmo estilo tão copioso e enferrujado e concreto rachado de muros e calçadas que é tudo igual. Essas ruas só sobem descem sobem e descem e vejo agora o mato grande avançando numa casa abandonada, mato e concreto me parecem tão integrados como osso e carne de um animal vivo só que mais: como osso atravessando a carne, tudo vivo ou vagando. Vagando vivo. Apanhou e saiu tanto sangue e um tiro, por final, na cabeça, que sua massa encefálica vazou no chão e sua mão permaneceu agarrada a um poste. E a mulher desse homem viu tudo e saiu dizendo não sou mulher dele não sou mulher dele e saiu sangrando porque estava menstruada e dizem que sentou na privada de um lugar e a privada ficou vermelha e o sangue saiu só depois de tanto tempo.
— Continua, o que aconteceu a essa mulher?!
— Conto se você me levar pra sua casa.
Ela muita safada disse que sim.
— Enterraram o marido sem cérebro e ela foi.
Continuei rindo:
— Teve gente que pegou o cérebro e comeu. Não, não sei se é carne, mas tanta fome.
Depois disse pra ela que ela gritava e gemia muito, ela respondeu que
— Sim.
Andando e pensando. Paro nesse banco, pego meu Alcorão, leio e me acalmo . Só que ela descobriu que eu bebia muito e me despediu. Tão jovem e bêbado crônico. O que isso que ela quis dizer de crônico? Sou alcoólatra sim.
— Sim.
Meu emprego me dá extremas condições. De tudo. Mais um pouco faço o que quiser. Levanto, atravesso a rua (olho para os lados, não quero morrer) e chego a Cooperativa. Sou amigo deles, nos meus dias de folga às vezes passo o dia todo aqui, saio cheirando água sanitária. É uma Cooperativa de reciclagem, me junto ao pessoal que usa essa água. Levo minhas radiografias, então eles mergulham elas nessa água e a tinta sai só fica aquele plástico azul que usam. Uma vez levei um pouco dessa água com a tinta e taquei em uma planta que não gostava. Quando acho que estou com fome eu rio. Nunca tenho fome como quando era muito pobre, mas é claro que penso às vezes que estou passando fome. Levo minhas radiografias pra lá e vejo tudo sumir escorrendo, doenças e ossos. Osso de galinha na garganta é o que acontece enquanto não combatermos coisas das mais esféricas às embrionárias. Levei um soco por falar isso. Nesse meu emprego não tem mais isso. Consegui tudo isso, estou praticamente rico. Não há mais casas e casas caindo ou favelas barracos. Sou sortudo e sei, sai de lá e isso me deixa eufórico. Eufórico nesse apartamento. Irei para Londres, aprenderei inglês fácil e fácil. Se um dia eu morrer falando inglês: and my mind is moving low. Rio não de Janeiro, rio. Viver e não vagando em Londres. Ainda sim hoje eu parado na janela do meu apartamento olho que lembro a maior felicidade que foi quando meu pai e minha mãe me acordaram e acordaram meus irmãos abriram duas caixas em cima da mesa e me mostraram latas de conserva e abriram as portas do armário descascado e com formigas e lá, em todos os lugares latas e mais latas latas de salsichas e legumes e sardinhas e carnes, meu pai saiu e voltou com mais caixas, olha aqui tem lata pro resto da vida ele disse e com mais latas nas mãos, latas tão pequenas e muitas espalhadas até no banheiro e enterrado no chão-quase-batido pra nenhum vizinho roubar. E eu tão feliz de explodir, por que eu não explodi? Mas tão feliz de amar até as formigas que andavam em mim e amar meu pai e mãe tanto e beijar meus irmãos mais sujos que qualquer um, mesmo que as latas não durassem muito e elas não duraram. Felicidade, felicidade tão bronquitíca.
Até hoje lembro todos os movimentos de todos naquela manhã, um e outro o que faziam, onde suas mão iam e sua pés juntos de frio e pulantes de alegria. Todos como radiografias, aquelas pessoas comigo naquela manhã. Exultante eu estava como se pudesse dizer qualquer coisa. À noite eu levanto e vejo minhas prateleiras cheias. E não há mais nada, como é bom. Não tenho nada e como é bom. Sou um rico perfeito. Agora. Agora. Comigo acontece tudo assim, agora se quiser explodo tudo, acontece tudo assim, o importante, nas desoras.


"It's the end of the world as we know it.
It's the end of the world as we know it.
It's the end of the world as we know it and i feel fine."
R.E.M.

quarta-feira, abril 11, 2007

Queimando na cama ou Simulado nas muitas Sombras

Queimando Na Cama Feito Graveto
Ou
Simulado Nas Muitas Sombras
Das dentadas impróprias
vibra a carne, se
suporto a dor e queimo
o braço o sangue pára
Nessa hora meu olho vesgo
vibra sua carne: córnea
iris, cristalino: expandidos
Dentes impróprios renegam
e mordo, mais outro braço
olho o sangue ferrugem dilatado
curto a hora, inseticida para
baratas que correm e pessoas.
Engordo quilos de ossos
tiro um dia de voto de silêncio
silencio visões de freiras e
dentes nus. Nu eu mirrado
exijo.
De banho tomado
falo coisas falo coisas às
pessoas vizinhas
descontentes riem fingem.
Na minha terra sempre há dentes
nas mordidas e eles vêem e vêem
E surdo eu cego,
vermifugo para pia
olho a água
enraiveço quase nunca.
Domingo 8/Abr/2007/


I and Sun
I and End

Isso não é uma história de decadência, o que você faz e respondi: revista que circula nos cinemas e expliquei que era só uma revista de onze páginas quando muito. Falamos nessa revista de estréias e fofoca dos filmes, e pipoca. Linda você é e fico beijo transo. Às vezes isso acontece pouco pouco. Aí penso em isolation isolation, não sei falar inglês, não consegui, fiz vários e outros cursos mas. É porque não fiz nenhum intercâmbio pra fora, só para Bahia, voltei, disse oi mãinha, e me olharam com uma cara e esqueci o sotaque e a mãinha. Esse chefe, sempre passa por aqui, pode ver se não estou pesquisando, tô sim ó. Ele ganha o mesmo que eu, morre de raiva. Sabe falar inglês e morre de raiva, pergunto:
—Do you?
Ele responde assustado:
—O Que?
Nada não mesmo. Vou embora hoje na chuva. Odeio cinema e não é por causa do meu trabalho. Meu pé esquerdo é menor que meu outro pé. Ninguém mais sabe, os que sabiam morreram. O que nunca ninguém soube, souberam mas esqueceram porque disse rápido, é que sempre achei que tudo que caía em meu olho ia pra trás dele e ficava lá, caído num chão seco, cheio de pó, cisco, cílios, mosquitos.
Infinidade de coisas.

"Pleased to meet you
Hope you guess my name
But what's puzzling you
Is the nature of my game"
Rolling Stones

sexta-feira, março 02, 2007

Mais





— Deu pra fazer bolos agora, vê se pode!
— Não tem nada demais.
— Antes andava de um lado pr’o outro, não ajudava as crianças, agora faz bolos pra elas, um homem nessa idade, velho, pra você não é nada?
— Para você é? Para mim não é nada, ele não paga meu salário, mas o filho dele paga.
— Nossa, também não é pra tanto, só estou dizendo que o que falam do jeito como ele era, você sabe, agora ficar fazendo bolos.
— Eu não me importo.
— Velho não se importa com nada, se você fosse casada com ele — importava.
— Não sei.
— Te conheço, pra você ser velho é só ter mais idade.
— Sou assim e não me importa.
— Você gosta dele de avental, né Bem?
— Se gosto não me importa.
— O quê?! Eu sei... sei...
— Fica quieta menina...
Entra ele, velho e de avental.
— Tem sal?
— Tem sim seu Roberto, ali ó.
Ele sai.
— Viu ele, perguntou se você tem sal, não precisa ficar vermelha.
— Não seja parva menina. Me respeite, tenho mais idade. Não fico mais corada.
— Sei que você gosta das mãos dele, são fortes.
— Você sabe bastante coisa...
— Sei. Sei que ele lhe prefere a mim, uma pena. Mas será que ele dá no tranco?
— Acho.
— Pra mim ele só serve pra pedir sal.
— Para você, se for...
— Quem diz que velho...
— Me respeite, sou idosa.
— Não quer que rio, né Bem?
— Só acho que ele ainda pode.
— É, velho sempre acha que pode.
— Já disse para não ser parva, jovem é que sempre acha que pode.
— Isso é verdade. Vou tentar.
— Não vai tentar nada, ele é meu.
— Ah, agora é assim, Bem?
— Ele é meu em outro sentido.
— Percebo, sei como é.
— Não fala besteira, você não sabe nada.
— Não se preocupe, ele não gosta das magrinhas.
— Não gosta. Eu sei há muito tempo.
— Não vem com as suas histórias.
— Sim
— ?
— Sim, histórias.
— Mas dizem que o filho bate nele.
— Se alguém bate, é a nora.
— Nossa, eu que não quero ficar aqui muito tempo, já te bateram?
— Só quando era muito nova, mas ele não fazia nada, nunca fez.
— O neto também bate, dizem. E as roupas? Só o avental é novo.
— Gostam que ele faça bolos...
— Nossa. Mas sabe de uma coisa? Estão baixando meu salário, vou embora mesmo.
— Disse isso há um mês...
— Mas o velho...
— O quê? Apaixonada?
— Deus me livre, é que intriga.
— Deus o livre, mais uma para escravizá-lo.
— Não seja bobinha, Bem. O Amaria muito.
— Nem me diga.
— Ele já me elogiou. Disse que me pareço com a mãe dele.
— Disse?!
— Sim, por quê? Ela era feia?
— Uma rainha. A mulher mais bonita que vi.
— Por isso que estou lhe dizendo...
— Por quê? Ele não tem dinheiro.
— Não me importa.
— Você está enganada.
— Mas meu bem...
Ele entra, velho, sem avental. Há ainda a barba rala, por fazer, talvez não cresça mais.
— Há mais sal?
— Tem sim senhor Roberto, no mesmo lugar... isso... não tinha visto?
Ele sai.
— Por que o chama de senhor?
— Oras, e você o chama de ‘seu’ , Bem. O que será que anda fazendo com tanto sal?
— Não tem nada demais, se é para as crianças.
01/Mar/2006/

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Gelo e Sangue: Gelo é Sangue

Quando me assusto
e meu corpo se esquenta
olho para os vários lados
olho para o que me assusta
mas fico bobo, ainda não
acreditando
e digo que sou louco
se não digo alguém sempre escuta
A TV não é o rádio, desligo-a
vejo meus risos por isso,
esse meu erro.
Não é um erro que alguém possa morrer
Protesto se por uma ferida entra
informação.
Mesmo a cicatriz funciona
Se sou um rádio só percebo
por causa da dor
o que me invalida?
A frequência toda quebrada
Permitiu que alguns me vissem
e quando estou ao vivo
também os vejo
frio e ao vivo
Às vezes de paranóico pego
a tinta
tenho visões diferentes pra cada olho
que não continuam

15/jan/2007/ CCA

sexta-feira, janeiro 05, 2007

As Tantas Patas de Um Mosquito

'I could sleep for a thousand years
A thousand dreams that would awake me'

'Poderia dormir por mil anos
Mil sonhos que poderiam me acordar'
Venus In Furs,Velvet Underground


'As histórias não têm desfecho.'
Alberto Dinis

' - Nonada.'
Guimarães Rosa


'Your confusion
,My illusion,
...
Hunting by the rivers,
Through the streets,
Every corner abandoned too soon,'

'Sua confusão,
minha ilusão.
...
Caçando pelos rios,
através das ruas,
em todo canto abandonado tão cedo'
Atmosphere, Joy Division

'A Literatura é sempre uma viajem à verdade.'
Franz Kafka

' No outro dia havia luz cruel [...]'
Ana Cristina Cesar


Charles procurava um mosquito, gostava de mosquitos. Do jeito de suas patas e de como parecia que flutuavam no ar. Suas tantas patinhas. Gostava dos que tinham patas mais longas. Também de como se balançavam nas teias e capturavam outros insetos. Como conseguiam fazer aquelas teias e andar nelas tão bem? Às vezes pegava uma descendo do teto por um pequeno fio de teia, segurava e descia suavemente.
A casa que parecia pequena sempre, sempre estreita, se alongava quando via as teias do mosquito. Naquela casa só havia um mosquito num canto lá em cima. Às vezes o mosquito desce e faz uma teia. Charles não destrói qualquer dessas, só de vez em quando as de lá cima. Podia jurar que ele sentia calor perto das teias, fica com as mãos perto, parecendo se aquecer. Quando acha teias caídas e sem uso, pegá-as com força, cauteloso como se passasse o dedo pela chama de uma vela, mas ele aperta a teia com força.
Se a mãe percebe ele solta. Seus oito anos, ainda os conta nos dedos. Não tem dó dos insetos que caem na teia do mosquito, a mãe diz que tem e destrói a teia do mosquito. O mosquito cai e parece desorientado, suas tantas patas se arrumam e vão pra baixo da mesa, da cama, ficam debaixo do sofá, sobem para o teto, as patas.
-- Querendo me matar. Essa era a voz do irmão de Charles indo embora, voz com raiva e com medo que falava diretamente à mãe, que não quis se importar.
A mãe nervosa sempre, um dia mandou Charles para o quarto, ele demorou, ela o empurrou e bateu com força a porta, que não se fechou, um dos dedos do Charles quebrou impedindo o contato da porta com o batente.
Sonhou que um mosquito andava pelo gesso que estava em seu dedo, talvez até os olhos do mosquito ele sonhou.
O sol estava forte no dia seguinte, a mãe saiu cedo e não voltaria cedo. Era manhã de domingo. A janela do quarto de Charles era de madeira pesada e estava quente, alguns raios de sol passavam mostrando o pó dançando no ar. Embaixo dessa janela o mosquito fez sua teia. De dias pra cá muitos mosquitos apareceram, bonitas teias pela pequena cozinha, na sala longa, no banheiro, nos armários e estantes.
Depois de abrir a janela, Charles olhou o mosquito que estava no chão com suas oito patinhas pra cima, contraída, morto. A mãe chegou, tirou seus vestido vermelho e branco, colocou blusa e saia. Bebeu um copo de água, conferiu o relógio, viu que era tarde. Olhou para o filho, disse:
-- O que foi?
-- Isso. Charles mostrou o mosquito em sua mão.
-- O que é que tem?
-- É um mosquito.
-- Não Charles, isso não é um mosquito, é ...
-- Mãe! Falou Charles , assustado.
Havia andado no rosto de sua mãe algo como ...que as patas dianteiras se juntavam e se esfregavam e pareciam estar com fome. Tinha asas que como pequenas folhas transparentes, que só apareciam as nervuras. A mãe levantou, incomodada, e foi atender alguém à porta. O bicho levantou vôo, perdeu a direção por causa da lufada de ar que entrou pela porta. Charles acompanhou esses todos movimentos, levantou a cabeça, o bicho agora se retorcia, suas patas pareciam tantas, estáticas por momentos, depois vibravam, suas asas estavam tortas e mal arrumadas, estava totalmente preso numa teia no teto perto do quarto de Charles e zumbia.
1/jan/2007
à noite
CCA