sábado, fevereiro 26, 2011

Escapamos De ( Um Sol ) Forte, Tempestade


Para Ler Escutando 'Jokerman' de Dylan
Foto de Francesco Zizola


reclame dos ventos
todos são professores, só
por que esfriam, são só nossos
defensores para a liberdade

nada passou nós sabemos
distorcido
grandes dedos em grandes lábios
nos gestos grotescos
todo mês?

entenda (o que diria se não
visse) a própria letra
na poesia
a crise no seu hálito todo dia

vigia da própria angústia
resiliente
na frente do espelho nos arrumamos
(mas se não visse quem diria)
as nossas camas e o café
da manhã os mesmos ventos
arrumados

o futuro se desprende e não está mais
nos seus cabelos e a música que escutava
se afasta

os braços soturnos do desprendimento
nos direcionam para entreter
não é destino, apenas o tempo
as perguntas e os porquês

durante uma conversa numa semana
quase de frio,  chuva na janela
nós revelamos ao mundo o mundo
o segredo, mas ainda

há um pouco atrás dos nossos olhos.


sexta-feira, fevereiro 18, 2011

No poço não há canto


Sei que não estou bem porque não escrevo
como uma carta a mim mesmo
a cara intacta, insubornável, das pessoas, todos os dias
e insisto no rádio quebrado, a minha explicação
o rosto o mesmo, sem espelho

um passeio depois da chuva, de guarda-chuva ainda
anseio.
a forma do que escrevo, um olho abundante num cerco.
à noite.

estou bem, à contracapa quando escrevo,
raiz das folhas observáveis
e no exercicío repetido da fala
luz numa fotografia jogada nos lençóis,
enlameada
ou  almejada.
sonhada.

sábado, fevereiro 12, 2011

Sentiu ser cão negro

o porão nos ouvidos
na manchete de jornal
mas não sou instruído
me chamam instrumental

a barba crescida azul esquecem
não ser sabedoria nem amor
plágio consciente que percebem
cão negro, em chagas, sem dor

São letras míopes com lagartos
rinhas de bichos já indistintos
em que não acho meus sapatos

no bule os significados já fervidos
o desconhecido nos desconhecidos nus
estão inscritos — num muro cru.

sábado, fevereiro 05, 2011

Still, still to hear her tender-taken breath,

Chris Honeysett

Camas inocentes foram usadas
e deitados o teto não,
meu pai rico homem do campo
que se esquece que um pássaro
tentou entrar pela janela e só encontrou vidro
e vidro mas não sabia o que o impedia
mas não vida,
estava preso no espaço,
o espaço aberto atrás, como no passado.
crianças abusadas agora ainda crianças mas emissárias de nosso destino
todos
ouviram que a grama cresce baixa e a pradaria
juntos.
meu pai pobre corre por não saber quem é
e ainda assim alguém me diz e faz ouvir
o que não posso falar

corrente puxa para o fim do mundo como um roubo e partos
o teto não cai é hora de dormir, os velhos presos ainda na vida
crio um movimento, que acredito ser respiração, mesmo que
não seja vontade, sonho
respiração.



 
 


o título faz parte do poema Bright Star de John Keats

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

no entanto num segundo

o céu esconde a grama
vejo só seus olhos,
e quando começa a chover
desaparecemos, sinto sua presença
até agora não voltei, eu sei
numa corda de pedra nessa cidade
(nos horrores e nas maravilhas e maravilhas)
estou preso
nas mãos dos outros
e não lembro

mas no meu corpo constato sua passagem
e por enquanto basta.
o título desta poesia faz parte da música BOM SENSO de TIM MAIA