quarta-feira, novembro 30, 2011

do interior

Augusto Brazio




Posso esquecer a crise dos seus
pulmões. E a técnica dos
seus joelhos. Esqueço toda hora
os antebraços e as mutilações
dos seus cabelos
os seus olhos afundados, submersos
há vários anos.
E de todas as páginas que
eu podeira escrever --
afinal não existe céu ou navalha --
nenhum espaço entre as letras
é pra você.

Hoje morreu o pessoa

Hoje morreu o pessoa
hoje há 75 anos
morreu pela curva
torcendo que a
língua possua
perfeita e fajuta
o sabor que nos altere
e por fim destrua.

sexta-feira, novembro 25, 2011

labirinto

Henri Cartier-Bresson



a terra cresce invertida
dedos as raízes, quebram o muro e

a vida se esgota em pleno minuto
o esgoto é seu dilúvio preso na língua
o que você diz
se fosse mais saudável

a promessa traduzida no que você vê
não está em mim
o labirinto se recupera pelos passos
não há encontro.

mesmo que o que vejo represente
o que se sente.

segunda-feira, novembro 14, 2011

certeza

Penduradas as palavras abraçam
um pulo da janela
em que não vejo
meu corpo esculpido por um carro na esquina
capa de um livro por todos escrito

Me leio com um tiro, o eco a cor o sabor
escuridão em pílulas em que engasgo
no trato com as pessoas, no trato com os ratos
tudo arrastado com a água com o fogo com o amor
ruídos de paz mal dormida, a agitação deprimida

O sol giz da infância, ideias soltas, babando verdades
envoltas em fim.

domingo, novembro 06, 2011

Não Apareça

Diane Arbus

hoje é dia que não preciso de pessoas
suas costas em que constam
os dias e histórias
ponto perpétuo de estratégia
a cara desarrumada, a vaga lembrança ilustrada
no sofá, na cama, na mesa quando acordam
por que pessoas são conspirações
e estou no meu direito de ser paranóico
Não me apareça, não me exista. Não seja nem pássaro

sou daqueles que pula um espaço pra ver se nasce de novo
e me espanto em que as pessoas falem, gestos e pregos
na minha parede, no meu cérebro
Mas me afogo na advertência, não me apareça
nem memória nem penhora
dá pra passar bem sem mim ao menos hoje
(me imagine morto há vinte anos)

por hora,
a noite pelas beiradas
à tarde, desaparecido
No outro dia
o outro, o outro
que você conhecia.