segunda-feira, dezembro 23, 2013

Mas todo ano, e por que não? (Dezembro)

Não há nada de
especial
Você verá
nesse vigésimo
mais três
no mês que matará o ano

e nada de especial em esperar
crê ainda que nos amará

hoje eu comemoro
aquilo tudo que não me importo
os rumos os gestos
estranho
os cumprimentos tortos
(o circo nos olhos)
(a liberdade e a leveza)

Mas refaço, hoje aniversário.

domingo, dezembro 22, 2013

É como se dezembro não tivesse
chegado
O ano lutando ainda na tentativa de
não morrer
Ou nada tenha chegado a porta ainda
fechada, poeira na soleira
no varal roupas que secam,
esquecidas há muito tempo.

Esse mês se parece comigo, sabe
não existe realmente final, nem noel
todos nós escritores

sábado, dezembro 14, 2013

Irmãos

chegamos todos juntos à festa
ao jantar
nos olhamos desejando não nos conhecer
Escapávamos dos gestos comuns que automáticos
eram repetidos

As luzes de natal tinham textura mais sombria
a languidez da bondade era limpa das prateleiras
por uma senhora da idade média
quando a sala toda estava vazia ou parecia estar

Demos as mãos como alguém fez supor que deveríamos
não pude fechar os olhos mas ninguém pode
O cheiro da carne e do pão e do vinho
assim que  notamos era sentido na mesa
que agora circundávamos

fizemos diversas orações que perduraram por séculos,
dada a ânsia que alguns arfavam os peitos e piscavam os olhos
fugi no momento em que nos foi permitido cear

ainda guardo a imagem dos homens com facas.
Quem não fugiu está morto
nós ainda vivos, aguardamos
seremos os retornados
no final de mais um ano
a incerteza o medo e a raiva nos consumirá
até depois que o mundo morra.

sexta-feira, novembro 15, 2013

dicio

Iquitirícia.
Do grego Ink: tinta (ou do inglês).
Amarelo, esgotamento.
Todos nós do esgoto
se mostrando, subindo
essa escada e sair do bueiro
ir pra rua. Pra se
vingar.

no verão

No verão raios
cobrem o céu
num espaço
de tempo, respiração.



(de bastante tempo atrás)
Bocejava
Bochechava
Bolchevique
Bom
mas não sou de direita.

segunda-feira, novembro 04, 2013

FB

tanta gente online
e tanto por dizer:
Me faça massagem,
Me limpe as sinapses
e para continuar a rima
tomo estriquinina

sábado, novembro 02, 2013

Se Não Se

O que sinto tem a métrica
ausente no que escrevo.

Estando pronto para sumir no abismo
descobrimos que aquele poeta se matara.

Se teve tempo onde arrumasse as malas
as meias certas a camisa exata.

as sombras criminosas dos vizinhos
enquanto ajeito o quarto para que não pareça fuga.

Por um momento a realidade me deixa sem dentes
e te olho, me aceitando imperfeito por quanto eu mastigar.

decidimos voltar a versos mínimos
à extinção das estrofes.

Indiferentes às cidades (que sacrilégio)
o pingo do sol à tarde nos vemos.

Então é assim que nos conhecemos me pergunta
não existe cinema não existe literatura.

Que encurve nossos efisemas, nossas surras
Mas ainda hoje trocamos nossos centavos na rodovia

Mas não sei como ser mais se
claro,
andamos.

quinta-feira, outubro 10, 2013

Ainda insisto que você pode ouvir
a música nas minhas linhas
omoplatas erguidas as vezes de orelhas
à guisa de um tapa à face, um beijo

Um surdo que te encanta
enquanto anda, o gesto é de graça
em libras em vidas

também eu remoo insignificâncias
os dentes um desenho animado
se rachando, a língua estrangeira
me falando

Mancamos até anteontem sorridentes
escovados, o nariz limpo
o sangue sem alcoóis, a alma sem erros

A partitura fugitiva
trégua nos sons sem silêncio
te ofereço um dia de folga,
sem veneno.

sábado, outubro 05, 2013

Hoje te vi

A mastigação será nossa música
seremos vacas eternas em nossos dentes
os entes queridos irrestritos desde que nascemos
nos acolhendo em braços castigados e sãos

A harmonia de nossas testas o único design do nosso quarto
eu sempre o barro possuo ainda assim a mutação
nas palavras ainda sim que só nas palavras
muito vento entra pela janela você diz
descortino um sorriso enquanto os livros o protegem

Ou esqueceremos um no outro o que nunca existiu
não me pergunto enquanto escrevo só vejo, vejo
as respostas todas em você me decidem

Há algo de descontínuo em nossa crença (de fim em o que não terminamos)
de inquebrável no que criamos
de radioativo no que esperamos
de insuplantável (nos outros)
em que nos plantamos.

terça-feira, setembro 03, 2013

300 anos depois
sou o único a continuar a escrever?
ou, pelo contrário,
o único a quem ninguém conta que escreve?

sim são problemas

sua cabeça a torre eiffel
de onde olho a noite
sob vertigem
encostado ao muro enquanto fumo
ainda o ópio
da sua mensagem no celular dos intestinos

digo por dentro dessa ambulância
que é qualquer tremor que você faça
menos sete na escala úmida das horas
a jaqueta me causa endometriose

prometo não dizer sangue
ou qualquer coisa dos seus pássaros com
dentes da infância, prometo fingir isto de
música

e também ser homem
e estudar
pensar em mãe/pai
não ficar mancando/imaginando
o terrorista medieval que poderá
sair de sua boca
não.

domingo, agosto 25, 2013

É notável, para alguém que escreve, o pouco sucesso em se fazer entender além da prosa e poesia.

segunda-feira, agosto 19, 2013

hoje, meu duplo me ignora
que seja ele a feder então, eu
como antes
não lhe cubro mais os pés na tentativa vã
em esquentar nossos miolos
Que não me olhe hoje abestalhadamente
um bobo qualquer burro que seja agora
enquanto prevejo esquemas sem paranoia
embora nos cuspam por igual, sou quem
conhece o amor, a desordem, a raiva,a rejeição
Pretende se vestir não se olhando no reflexo
ir a essa festa de aniversário enquanto se ajeita todo o tempo
torce para que as velas teimosas falhem em dobro
isto é
além de não acenderem de novo na primeira assoprada
deixem tudo no mais puro breu
e num vislumbre (ainda haverá luz?)
me notar.

segunda-feira, julho 01, 2013

eu ainda louco eu ainda vejo eu ainda cinema

a câmera visita
como num filme curto
que você não gosta
os passos

ou não vá embora na metade
da sessão
ou no duo ao piano tocado ao dente

desumano o sopro não da morte
apenas do adeus
fecho os olhos enquanto subo essa escada
degustada em horas de alumbramento

o cacho dos olhos escorrem
feito o amor naquela nossa tempestade
tudo está onde não vejo, filme e seus ossos
um vento sem nome, ainda um esquecimento.

quinta-feira, junho 20, 2013

no rosto da minha sombra

a certeza de nosso encontro

sábado, junho 15, 2013

quem nos viu nascer

oswaldo goeldi
a crust of bread
ou tudo que nos sobrou
enquanto a beleza do aerossol
entra por la ventana

not only kills the flowers
como  dissesse que
esqueci de quando me interessei por você
qui m'a jamais dit

estamos perfeitamente sãos e isolados
porque nada nos ocorreu
moramos nos países dissolvidos
por oceanos microbióticos
sei que você não veio das profundezas
só para me encontrar como num sonho

mas ainda continuarei traduzindo cada migalha
deixada por você no meu caminho.

domingo, maio 19, 2013

Cecília Meireles

Conheço a residência da dor.
É um lugar afastado,
Sem vizinhos, sem conversa, quase sem lágrimas,
Com umas imensas vigílias diante do céu.

A dor não tem nome,
Não se chama, não atende.
Ela mesma é solidão:
Nada mostra, nada pede, não precisa.
Vem quando quer.

O rosto da dor está voltado sobre um espelho,
Mas não é rosto de corpo,
Nem o seu espelho é do mundo.

Conheço pessoalmente a dor.
A sua residência, longe,
Em caminhos inesperados.

Às vezes sento-me à sua porta, na sombra das suas árvores.
E ouço dizer:
“Quem visse, como vês, a dor, já não sofria”.
E olho para ela, imensamente.
Conheço há muito tempo a dor.
Conheço-a de perto.
Pessoalmente.

- Cecília Meireles

quarta-feira, maio 15, 2013

viagem

é perfeitamente adequado
eu esquecer a poesia
e me dedicar ao ódio
e dele mesmo me esquecer

não sou eu e é a ele por quem ando
para que seja outro homem
nas mesmas pernas
na página imaginada
onde nunca escrevo

mas morrendo agora mesmo
terei certeza de que o que sobreviva
respire?

ou
amor
ainda não
ou nunca mais
amor

ou pelo menos olhe
não para a queda, não para o chão
nem para si mesmo
mas para tudo que foi rasgado
e rasgue mais

terça-feira, abril 23, 2013

mais um caso

não quero matar
a sangue seco
e piscar os olhos freneticamente
enquanto vejo

as horas que nunca existiram
os passos que nunca existiram
as módicas esperas que não existiram

eu retiro
o corpo diante do espelho
inteiro por onde não andamos
o que veste hoje

mas senão assassino o que sou
se é a única coisa que ressoa quando escrevo
ou te vejo, pessoas há muito mortas
me acusando de seu infortúnio

e um detetive me persegue
assoviando Chopim entre dentes
amarelos e podres e fétidos e pegajosos
é claro que pra ele é só um caso a mais.

quarta-feira, abril 03, 2013

nada de errado

Não há nada de errado
em tomar um café à noite
e cair no escuro do
seu olhar me notando

ou doentes
e suas pílulas assim
que acordam, viciados e envegonhados

ou rancor no verso entre a porta e a cama

ou quem morre pela tarde
como se logo mais
encontrasse.

segunda-feira, março 25, 2013

ateus




por que não transforma mentira em verdade
não rezo mais
não me possuo,
então, nos mais rachados pedaços
que sofra não estando ajoelhado prostrado
ferido, não rezo mais por que não
transformo em aceitação estes seus olhares
e  aqueles do passado
e ainda os que virão e também os que não existem
por que não rezo mais, entende
que o que me sustente é o mal
os horrores, perversões
e o ingenuamente bom,   que me prende
entende por que não ainda
 ando ao seu lado só  na claridade dos corpos
na escuridão dos cigarros apagados
que  te compreenda você  não entende
em todas suas argilosas manias em todas suas agonias malditas,
por que não rezo mais.

quarta-feira, março 13, 2013

Drops

drops
gotas
sua possível ausência pressentida a quilômetros de distância

folhas
(que você atrai antes da) chuva
essa agitação (de luz até) com olhos fechados.


agora não sei se foi embora (ainda)
você e o que comemos no café
guloseimas
flores
carne e maldades
tão bom que as mãos também não sobraram


tudo é escrito

sexta-feira, março 08, 2013

Encontro


Éramos muito unidos e
há três
meses
navios se afastavam
 escuros
a noite partindo
 na noite
dispersos nossos abraços
inéditas sombras e bocas
nos comunicavam
o que hoje não
há mais
hoje nos arrumamos
pela manhã e
cotos brutos belicosos
comeremos juntos ainda
novos
ao meio dia.

quinta-feira, março 07, 2013

O Cachorro Azul



Certa historia indefinida, magra e que andava arrastando correntes no chão, uma história fantasma. No caminho para o trabalho eu acordo. Eu acordo e ainda é noite, o dia não passou. Percebo que tenho essa falta de olhos nas horas. Pensei que poderia estar na janela e uma brisa leve e fria no meu rosto. Definitivamente não quero me importar com outras pessoas. O celular toca, e um favor, buscar meu sobrinho na escola. Com o sobrinho eu me importo. Corro, já está noite. Meu sobrinho aguarda com uma cara qualquer, alheia. Tem sete anos. Ele diz que gostava quando o levava de moto. Me faz rir. É um menino quieto, se parece com o pai. Às vezes pensava que a melhor relação que poderia ter com meu irmão era com o filho dele. Meu sobrinho era impressionado por uma história em especial, O Cachorro Azul, que é uma história contada na família. Minha mãe tinha terror de várias coisas, mulher muito temente, uma de suas superstições tratava de cães brancos, os machos. Não se podia ver um em dia de chuva ou que ia chover, e mesmo que tivesse chovido no dia anterior que já ficava tremendo. Isso vem de quando era pequena e a vizinha lhe falava do cão branco e contava a tal história. Num belo dia uma senhora muito gorda passou pela rua e disse (para essa vizinha), ‘que vai chover, só espera’. Logo às onze da manhã, um mendigo conhecido da rua, passou comendo um cenoura e disse ‘olha só aquela nuvem gorda’. Mas a vizinha investigou o céu e nada viu. Às três da tarde uma criança vinha correndo e deixou alguns de seus pertences cair, a vizinha ajudou, e na dúvida, quis saber daquela pressa toda. ‘Minha mãe disse pra eu não sair, que ficasse atento, se começasse a chover eu tinha que tirar todas as roupas do varal’. ‘ Mas, garotinho, hoje não vai chover’. A criança tranquilizou-se. “Só que se chover o meu cãozinho branco vai vir pra te morder”, ela gargalhou do que a criança disse. (Nesse momento minha mãe parava e nos olhava como se esperasse mais alguém chegar) Nenhum cachorro a visitou.
Entrego o sobrinho. Todos ali com cara de assustados, todos minha mãe. Entendo que algo horrível aconteceu e que é pra passear com o garoto, o próprio agora já assustado. Que não vida.

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

No Map



once again
i miss the way
i say bring me back
but my legs no with their mouths
agatha christie's book in hand
ask me do you pretend
silence, bones, afraid
the answer i guess you waiting
long ago a person already sentenced
kill yourself and million maybe





                                                                                         M. M. Crostee

domingo, janeiro 27, 2013

branco

tento fugir dessa perseguição branca
minha respiração branca
os dedos brancos
no sangue
na concordância branca
nas minhas palavras, no aceno de cabeça
no sim
fechado ou aberto dos olhos
que perpassam (consigo?) o jornal
branco, que dia que idade o ano
no sangue
mas não sou só eu
os vejo todos os dias
expirando sons sem cor nas caras
nas almas brancas
penso que preciso de uma arma, faca, carro
não penso
sei que sou visto mergulhado no escuro
(não vejo?)
todos flutuando no branco
todos têm nomes, sobrenomes, fomes
nos vemos todos os dias
no branco em que nos cumprimentamos.

segunda-feira, janeiro 21, 2013

entrementes

tenho certeza
por nossas testas
-também li velhos cadernos
traças, pó, minusculas aranhas -
e tive certeza
não somos quem eram
eles, anacrônicos
antipáticos, tinham fome
só depois da meia-noite

criamos andares (criaturas sem ossos)
pernas e lábios
- visões em que flutuamos
no sal, mar, no éter -
e saí finalmente através do tempo
que não vivemos,
um mês que fosse, por engano
nenhum
daqueles existentes no seu
papel que marca os anos

seria sorte ao menos uma vez
sorrir
até com os dentes
invés de testas
entrementes.

sexta-feira, janeiro 11, 2013

Escrevo
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Poesias ou obsessões
.
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.
.
...?

quarta-feira, janeiro 02, 2013

ninguém, nem mesmo a chuva



não sei se eu sou prédios
ou você
altos
o dia começando entre pulmões
sensuais
ou não, você
o mesmo endereço, me pergunto
enquanto chove
na mesma rua
ou você, não
os policiais invadem
eu sempre em fragrante
levam eles pela rua, envergonhados
as calçadas ainda úmidas
me volto, vazio
por onde você dorme
ou você