segunda-feira, março 25, 2013

ateus




por que não transforma mentira em verdade
não rezo mais
não me possuo,
então, nos mais rachados pedaços
que sofra não estando ajoelhado prostrado
ferido, não rezo mais por que não
transformo em aceitação estes seus olhares
e  aqueles do passado
e ainda os que virão e também os que não existem
por que não rezo mais, entende
que o que me sustente é o mal
os horrores, perversões
e o ingenuamente bom,   que me prende
entende por que não ainda
 ando ao seu lado só  na claridade dos corpos
na escuridão dos cigarros apagados
que  te compreenda você  não entende
em todas suas argilosas manias em todas suas agonias malditas,
por que não rezo mais.

quarta-feira, março 13, 2013

Drops

drops
gotas
sua possível ausência pressentida a quilômetros de distância

folhas
(que você atrai antes da) chuva
essa agitação (de luz até) com olhos fechados.


agora não sei se foi embora (ainda)
você e o que comemos no café
guloseimas
flores
carne e maldades
tão bom que as mãos também não sobraram


tudo é escrito

sexta-feira, março 08, 2013

Encontro


Éramos muito unidos e
há três
meses
navios se afastavam
 escuros
a noite partindo
 na noite
dispersos nossos abraços
inéditas sombras e bocas
nos comunicavam
o que hoje não
há mais
hoje nos arrumamos
pela manhã e
cotos brutos belicosos
comeremos juntos ainda
novos
ao meio dia.

quinta-feira, março 07, 2013

O Cachorro Azul



Certa historia indefinida, magra e que andava arrastando correntes no chão, uma história fantasma. No caminho para o trabalho eu acordo. Eu acordo e ainda é noite, o dia não passou. Percebo que tenho essa falta de olhos nas horas. Pensei que poderia estar na janela e uma brisa leve e fria no meu rosto. Definitivamente não quero me importar com outras pessoas. O celular toca, e um favor, buscar meu sobrinho na escola. Com o sobrinho eu me importo. Corro, já está noite. Meu sobrinho aguarda com uma cara qualquer, alheia. Tem sete anos. Ele diz que gostava quando o levava de moto. Me faz rir. É um menino quieto, se parece com o pai. Às vezes pensava que a melhor relação que poderia ter com meu irmão era com o filho dele. Meu sobrinho era impressionado por uma história em especial, O Cachorro Azul, que é uma história contada na família. Minha mãe tinha terror de várias coisas, mulher muito temente, uma de suas superstições tratava de cães brancos, os machos. Não se podia ver um em dia de chuva ou que ia chover, e mesmo que tivesse chovido no dia anterior que já ficava tremendo. Isso vem de quando era pequena e a vizinha lhe falava do cão branco e contava a tal história. Num belo dia uma senhora muito gorda passou pela rua e disse (para essa vizinha), ‘que vai chover, só espera’. Logo às onze da manhã, um mendigo conhecido da rua, passou comendo um cenoura e disse ‘olha só aquela nuvem gorda’. Mas a vizinha investigou o céu e nada viu. Às três da tarde uma criança vinha correndo e deixou alguns de seus pertences cair, a vizinha ajudou, e na dúvida, quis saber daquela pressa toda. ‘Minha mãe disse pra eu não sair, que ficasse atento, se começasse a chover eu tinha que tirar todas as roupas do varal’. ‘ Mas, garotinho, hoje não vai chover’. A criança tranquilizou-se. “Só que se chover o meu cãozinho branco vai vir pra te morder”, ela gargalhou do que a criança disse. (Nesse momento minha mãe parava e nos olhava como se esperasse mais alguém chegar) Nenhum cachorro a visitou.
Entrego o sobrinho. Todos ali com cara de assustados, todos minha mãe. Entendo que algo horrível aconteceu e que é pra passear com o garoto, o próprio agora já assustado. Que não vida.