domingo, dezembro 25, 2016

Dezembro é uma viagem

Talvez a carta nunca chegue
a resposta
Mas dezembro está aí
veja só
ou junto de outro

Foi neste mês que voltei
de tantas coisas,
menos de você

O joelho me lembra
a queda próxima
mas os dentes ainda bons

as palavras ainda boas
os livros ainda bons
o fim ainda bom
se espera

ou eu corro
como toda aquela velocidade, sabe
a Coragem de quem dorme todo noite
nessa entrega de não saber ser irá
acordar.

quinta-feira, outubro 27, 2016

poderei

ando ainda naquela terra
percebo as formigas quando
tarde demais as picadas

Ainda o destruidor
daqueles seres sempre
o cheiro a grama desce a água
as gotas no braço

Posso então voltar
agora o simulacro
a chuva depois deste
último mês as roupas

Sei que não posso
não poderei
Só há o desejo
de copiar
o intruso a palavra

só o que não poderei
mas as folhas minúsculas verdes
meus olhos o intruso
chegando em boa hora
que senta à mesa
e toma o café.

quinta-feira, julho 28, 2016

Vérti-ce

Que você seja mesmo um senhor
respeitável
mas você não tem essa educação
ainda assim
o sol dos sussurros
mesmo à sombra
de nossas mãos

e posso ser você
enquanto lê
enquanto todos dormem
e me acorda, e reconhece
meus olhos assombrados

e terminará por me deixar
por que só poderei ver palavras
reflito, no porto
e não barcos
e não asas

mas afinal, um encontro

sábado, abril 09, 2016

O abraço da resistência

Para vocês que têm se sentido
furtados

eu que tenho chorado
nestes tempos sempre

Por vozes que ainda resistem
e ainda não são nada

(tenho tentado conciliar todos esses
anos
do ridículo do diluído
do que alegra também)

Apesar da certeza do fracasso
enfim
a persistência do inoportuno

Mesmo que no que escuro
para vocês

o abraço da resistência.

sábado, março 19, 2016

Nossa taxonomia

O reino humano
O filo humano
A classe humana 
A Ordem humana 
A Família humana

O gênero humano
A espécie humana
A farsa humana

quarta-feira, fevereiro 24, 2016

dias após dia

Não tenho por onde falar
e o perigo de parecer místico
neste voto de silêncio

mas tenho por decidir
o passado, as flores postas
na água tardiamente
ou ainda este presente
radioativo

lavo minhas roupas na chuva
fervo a água de nossas conversas
que a rede estica e encolhe
me encolhe

a casa que construirmos já
destruída
ou não sabemos escrever
nos destroços
conhecemos já as pedras
e temos nossos dentes.