domingo, dezembro 19, 2021

Dezembro quer saber

 

Dezembro quer saber

se sou adulto

se com a voz que tenho, canto

se a chuva é ainda ameaça

se o escuro é também meu

aliado, o mais leal

 

de todas as horas quer saber

da intimidade menos

interessante, do copo de água

meio gelado que tomei ontem

à noite

se o café saiu como

esperava naquela manhã

 

quer saber se sei que fechar

o ano é nada mais que deitar e

pela manhã ser algo quase nada

diferente

esse ano pra frente

aquele pra trás

 

quer saber se posso esquecer

se penso em escrever

se vou levando esse

sobressalto essa

tranquilidade

de ser gente

que nem dezembro

e nenhum deus sabe

 

respondo

sorrisinho assim

misterioso.

sábado, agosto 14, 2021

peixes


os aviões sobre nossas cabeças 
os santos sob os nossos pés

as lágrimas caem no óleo quente
enquanto fritamos os peixes 
do rio 
da nossa insuficiência
da pequenez 
da pobreza
de plebe
de mortais
até a presente data 
vivos

não
não
não

aquém do que possa
os gestos as roupas
as falas parecer

somos talvez
somos outra coisa
portanto que se vai
vivendo
somos também 
sim veja bem
a maior parte
sim
ainda que moderado
sim.

 


domingo, março 14, 2021

alguma linha no tempo

alguma cantora antiga
história trágica
as próprias avós
também

exemplos masculinos
a eterna distância
os corpos suados
o desafeto depois do gozo
depois

após a vida toda

a morte ainda 
comum
as surpresas na idade
em como morreu
em como deixou-se
em como todos esquecerão

após a vida toda

a voz antiga resta
(a música?)
pequena nuvem
após toda a chuva
devagarzinho
terra ou asfalto
a vida toda secando 

 
sozinho
a dúvida
devagar
a estrutura
a poesia destruída

após toda a poesia.

















gênero

 o link clicado

é 

o único gênero possível


quarta-feira, março 10, 2021

novo

o novo ano
gerânios 
casas nunca abandonadas
sem águas

a mesma máscara
anestesiadas
as várias caras
gradeadas


quinta-feira, dezembro 24, 2020

Dezembro 2020

eu podia voltar
ver
aquelas coisas no
asfalto
(depois do parabéns
de jesus e do de novo)
a música na calçada 
ainda 
esperando carona
a companhia das 
faltas

então eu podia voltar
pra outro Dezembro
ou avançar para outro
ano

sem asfalto sem equívocos 
sem doença sem quem veio
não vir
esperar sem o mal de esperar
e rir sem
rir

quinta-feira, dezembro 03, 2020

nossa natureza

como é curiosa a volta 
do pensamento
a germinação da tentativa
a depressão novamente

o alfabeto todo 
lá escondido 
nos chuviscos no tropeço 
da estrita rotina

a nossa natureza revelada

o corpo falho, feio
a mente falha, instável
não há estética 
o estilo 

sombrio e premonitório 
a vida dividida
a espera por ela
a espera sem ela





sábado, outubro 03, 2020

cena

o medo nas meias

palavra 

a rua os caras 
na praça
recusavam a hora
parênteses

o sol mastigava
mais se olhava
o rio o córrego
trazia levava

minutos largados
cães e camadas
guardados no pensamento
mãos bancos 

e mentiras 

do tempo


sexta-feira, setembro 25, 2020

me faça pequeno novamente

me faça pequeno novamente
que eu não consiga 
que não possa recusar

sem óculos sem voto
joelhos e dentes, bicicleta
não possa controlar 

e diminua mais e mais
até a gramática
até à estada no útero

e possa menor e menor
estar perto até 
de não voltar.

sexta-feira, agosto 28, 2020

imagem

neutralizantes na língua
fazendo sala
na imagética das culturas 
no fortuito do portão abrindo
na diáspora das histórias
no amarelo dos asfaltos
nas prisões dos trabalhos
na liberdade da maldade
no dia a dia da conformidade.

sexta-feira, agosto 07, 2020

lágrimas ainda

quais as lágrimas ainda
no ônibus (o ar pálido de fora)
na escada dos acúmulos 
na água que parece fresca 
do esquecimento
a língua presa dos nossos protestos
o reflexo nos olhos do fim do mundo
quais lágrimas ainda