Medidas (de dezembro)

Dezembro são linhas
em disfarce abaixo

das luzes
intermitentes
emoções geométricas

Nos gestos já operados
Nos cantos das vozes
Nos cantos das salas

Curvas das desculpas
nas ensaiadas despedidas

- A esperança não está
no cemitério
quando há ainda
mais um ano para que
as suas linhas se
confundam com Dezembro.

Às manhãs

O estranho que me pode matar
tanto assim me preocupo com
o carro que passa
as faixas do asfalto também
registram o que sinto

no atropelo que estão meus
sentimentos riscados no chão

Abro o pacote cuidando
que a tesoura só permita
que o café cheire
e não o sangue.

Inteiro

desapercebido
Dezembro perpassa
o natal
os finais
aniversário
os verões
o fim do ano

e o retorno

mas não esconda
o sangue a raiva a fé na carne
o doente convicto

e o retorno

(aos fragmentos
do dia a dia).

o que será

A caixa preta
do Tempo
a mão (velha/nova) abre
e recorta os tecidos
de vida e morte
e os costura à própria mão

a anatomia do Esquecimento
(de um rosto amanhecido
de uma voz que se avizinha
do estrangeiro que nos abraça)
é a Linguagem
afinal o futuro também se esquece

Na manhã quente e clara
confuso por um vizinho
um estrangeiro nos abraçaria
no aeroporto.

Agora

Me desculpe ainda
sou quem eu era
e mal e esperançoso
era marginal e atencioso
era inteiro e machucado

Eu que era tão banal e
indecifrável
que teria atirado e visto
os corpos ainda quentes
no chão
mas que só estendi as mãos

para lhe escrever
para me distanciar
e viver

Ainda que eu sussurre
nas fotos antigas, corra, corra
me perturbe um algo trivial
ainda agora

o agora.

Virginia, Guarulhos

Tudo indica
não há conclusão
o mundo é girante
afinal.
Há gentes
que são caminhos
o caminho é o mais importante
para nós.
Há pessoas por quem passamos
que são caminhos breves
mas são paisagens de se lembrar
rindo sozinho
escondendo o rosto
a boca aberta
tão belo é esse rio
que eu vou lembrar.
Eita
então lembrar é conclusão
que caminha!

Momentos

o livro fechado

que eu vi abrir um dia

a janela o vidro embaça

a noite em que alguém

batera a testa no frio

tremia o que escutara

na rua a luz lambia

a chuva de abraços

módica da infância

em que nada restara

descobrira

surpreendido à minha porta.

heritage people

It's a little candy the violence drops mouth-to-mouth the lips are always bleeding no one notices the damage is already usual - clothes for everyday I owned my pain it's not an inheritance.

Just

Just sit one minute To fake hungry to fake vows to eat all leftovers too but Our eyes are true so close them.