quarta-feira, dezembro 27, 2017

Não só o mês por último

Que o mundo acabe mesmo em
Dezembro mas não será final
enfim o mês de sua voz
o ponto que termina
a carta

a chuva as músicas as suas cores
as gotas de nossa peregrinação
a umidade nos ombros nos joelhos
como vapor as palavras ainda mal
decifradas

Seja a sorte no final de seu calendário
não a pessoa não o papel não a morte
a palavra ainda assim compreendida
por último.

quinta-feira, dezembro 07, 2017

Um pouco antes

Um passo atrás na
elegância de uma despedida
sem palavras ou toques
a visão apenas de suas costas
descendo as escadas
fingindo não estar mas sendo
inseguro enquanto fecha o portão
a rua te engolirá
minha memória também
me pergunto
o céu convulso não entrega
a tempestade prometida
como não te entreguei meus
pensamentos
e você os seus, talvez.

domingo, outubro 01, 2017

um lugar

Nos descobrimos sem almas
ainda assim jogados
com gestos desconhecidos

a fatiga do duplo que vai ao trabalho
e nos deixa a cama arrumada
só o gato nos olha na casa vazia

A calma os dedos infringem a dor
ossos e línguas quebrados pela noite
mesmo que nos conheçamos

Por quem eu não sei mesmo
onde esperar, pois não será aqui.

deixe aquela pintura pela metade
a cópia do quadro famoso

olhos descansados
penso que se me verem à esta hora
escrevendo

os corpos da pena e do pincel
um dia qualquer no parque

domingo, agosto 27, 2017

sem nome

Nos reunimos para roubar
mesmo que separados
neste absurdo de nossas conversas

Eu que me preparo todos os dias
enquanto outros mesmo sem despedida
neste absurdo dos bons dias

não há nas minhas mãos
não também em meu cérebro
a segurança de acreditar

Já está o laço atado
em nossas cinturas
as fadas ainda choram.

sábado, abril 22, 2017

Enquanto se cuida das plantas

Perdi um conto enquanto cuidava
de minhas plantas (ou seria uma poesia?)
Primeiro a terra seca entre pedrinhas
mais fundo a terra úmida que entra embaixo das unhas
O personagem some entre uma raiz e outra
a luz do Sol já um tanto longe
As palavras não me seguem não há enredo
a oportunidade esgotou-se naquela discussão
tão antiga
No fundo minhocas são sinal de saúde, mesmo na noite
A história não tem gramática, mas sim meus desejos
A água apaga ou nutre ainda me pergunto, ou o Futuro será
a lápide (entre datas) que dirá: Delete e não o papel amassado
Observo bem as folhas como um carinho que queremos receber
desde sempre: são pequenos mapas, os mapas e seu objetivo

Desligo a lâmpada muito alta
essa última luz e finalmente
acontecerão coisas que não posso ver.

domingo, março 26, 2017

passageiro

em tom confessional
a minha vontade
sem religiosidade
só o óleo já em suas pernas
o mesmo de minhas mãos

o calor de quilômetros
de sua história
você não sabe mas
cruzei os mares
pensando em seus
dedos coloridos

há o futuro
este poema
ainda não lido mas
os mesmos olhos
na tarde quente
e nublada.





quarta-feira, março 08, 2017

Bom dia

Escondo minha selvageria
minhas pontas dos dedos sujos
no ombros fortes
no gelo fino
na flor uma semana depois de colhida

os pássaros tentam alguma naturalidade
enquanto cantam em cima dos postes
não posso deixar de imaginar eu
pássaro magro e escuro na claridade das pessoas
ao redor

a carne e o vegetal
ainda sofrerão por muito tempo
ou eu é que imagino
corpo e alma, as nossas
que enquanto juntas ainda posso
imaginar

mas sou então algum feiticeiro
escuso um necromante
ou quem me vê não sabe
que estou relendo as mensagens
mesmo no bom dia
ininterruptamente.


domingo, fevereiro 05, 2017

novo coração

Por fim nos dois temos razão
o frio não foi tão fundamentalista, mas acumulatório
Kafka era sim alguém de praia

Os ratos o feijão dá conta
e a madrugada o cachorro decidiu ler
o silêncio pela primeira vez é asqueroso

e abre a porta como se entra numa seita
mas você evapora começando por suas mãos

A história termina durante o almoço
sem amor

domingo, janeiro 22, 2017

Origem de um rio

grandes mãos de pedra áspera
deitam minha cabeça
com gentileza

para longe do meu corpo
na confiança de quem fecha os olhos
conheço seu calor humano

durante todo o dia
o leve toque da grama 
então o rio congelado

nada machuca minha pele
e esqueço toda a violência
e todos os meus cadernos

o rio não é fundo
mas não parece acabar
finalmente abro os
olhos enquanto escrevo




terça-feira, janeiro 03, 2017

como ser o que é (naquele dia)

As pequenas gotas daquela chuva
fria é o que eu precisava desconfio
àquela hora você também

o que não pude tomar você tomou
a máscara da descoberta descendo
a garganta. A ressaca que não virá

o dia continua seu pão com manteiga

Mas nós criamos clandestinamente
a Igreja Dos Que Sabem O Que Aconteceu Naquele Dia.