
As escovas de dente penduradas em um trançado – vindo do norte do país – uma a cima da outra. A vermelha, a azul, bem clara, e a verde. A vermelha era nova; a azul, muito velha, dá a impressão que é usada há décadas; a verde não se percebe se é nova ou usada.
As camisas pendiam também, essas, velhas de uns pregos velhos na parede perto da porta. As usadas mesmo estavam num cesto, pra serem lavadas dali a dois dias, no sábado: as camisas velhas seriam pra limpar o chão.
Um homem sentado no chão. Está descalço e massageia os pés devagar, sem pensar em nada. O homem tira a camisa, a pendura; tira a calça, um jeans velho.
Ouve alguma coisa e, de cueca, sai do banheiro e investiga, pela janela da sala, alguém vem em direção da casa. Ele tira a cueca, espera em frente à porta. A casa é velha, ele pensou. Andou apressado até o quarto, vestiu uma calça jeans e também uma camisa vermelha e muitas vezes se sentia apertado nela – agora não.
Quem batia na porta era uma mulher, nova.
— Oi, ela disse.
— Sou novo aqui.
— Eu sei, ela cortou rápido. Ele esboça um sorriso, diz:
— A casa é velha, mas eu gosto.
— Já morei aqui. Ela olha por sobre o ombro dele.
— Quase ainda não mudei nada. Ah, você quer entrar?!
— Minha mãe disse que eu podia achar algo que ela deixou aqui, mas faz muito tempo. O banheiro ainda tem piso vermelho?
— Ainda sim, eu gosto.
Ela entra, ele atrás.
— Você mora aqui sozinho?
— Vão chegar mais tarde, ele responde, depois de uns segundos diz ainda: Daqui a alguns dias, mais dois.
A casa ficou fechada duas semanas, quando a última família saiu.
— Minha mãe diz que quem sai daqui é pra melhor.
— Por que a casa é antiga?
— Antiga e velha.
— Eu não olhei tudo ainda, alguns cantos parecem mastigados.
Ela sorri, diz que a casa não tem importância. Só arrumei o banheiro.
— Esse aqui era o meu quarto.
— Vou dormir aqui.
— Vão precisar de empregada?
— Nos arrumamos sozinhos.
Ela olhou pra trás, continuou.
— Não vou encontrar, acho que a minha mãe brincou comigo e deve ser porque eu sempre quis guardar algo que permanecesse bastante tempo escondido.
Foi saindo, disse que esperava que eles gostassem, se dessem bem, lá.
Vamos sim, respondeu.
— E agora toma cuidados redobrados, por causa dos terremotos.
— Eu não senti, cheguei hoje.
— Ah, é! Eles não acontecem muito, acho que talvez não aconteça mais. Agora ela ri e olha pros lados, já está do lado de fora. Tchau.
— Tchau, nos falamos.
— Sim, ela ainda responde. Vai embora.
Ele tira a roupa, toca na parede e senti um pequeno tremor. Deita no chão, de travesseiro o próprio braço, dorme, o mais normal nessa quinta-feira.
Um comentário:
Literatura diferente, intrigante e curiosa. gostei tb do visual do seu blog. =)
abraços
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