sábado, janeiro 29, 2011

Entrópico


foto de Robert Smithson



O tigre morto no asfalto,
suas listras as listras do carro
também o tigre de bengala, no velho
a velha pose.

o cigarro descartado num copo e a bebida
o calor matura tudo cedo, até as meninas,
os cães lambendo a cara morta,
nos decompomos mais rápido

só espelhos na frente de espelhos
me salvariam
e numa praia sem areia cato pedaços
de pedras reluzentes

na esperança de ver
a menor coisa, a mais fraca,
que não exista.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

letra azul num corte cruel, eu li

o coméstico nos seus dentes
ainda beijo
e a própria pele do macaco e
o próprio olho do coelho,
(destes testes)
sinto entre nós
ainda assim,
vento na janela.

grito de lennon em Mother
nós choramos iguais e
cada um em sua casa,
um dia pensou em se matar.

houve uma tarde de domingo que nos falamos
ouve uma tarde de domingo
e lembra.

domingo, janeiro 16, 2011

indo quase

nuvens morfológicas
nas gengivas
nas genitálias
que alguém grita algures
e vigia
meus mortos todos, eu sei
não foram enterrados.
estão expostos.
mas aprendi por ilustrações
que ainda preciso falar
preciso rezar
no meu rosto.
um poço
corrói em círculos olhos
visões submundas
razões
que me trasnformam e tumultuam
os dias curtos as longas horas os minutos
venço o vencedor porque somos humanos
e escondo a dor perdendo-se.
juntos eu pulei de um prédio.
estou subindo até hoje.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

decidi escrever


estive sendo seguido
as ruas se desgrudavam
mas não moro aqui invariavelmente

há quilometros
num obvio destino
decidi se corria invariavelmente



o pequeno lago me engoliu
e debruçado
me esqueci invariavelmente



ao sul do mapa
desliguei luzes dos postes
(por desespero)
desde então todos são invariavelmente



escuros ou
ninguém
me enxerga.

domingo, janeiro 02, 2011

Aldeia sem Cavalos



a onda encharca o pouco que tínhamos
e frases de outros séculos embocam
nos lábios nos vidros nos limites
não sabemos mais ver,
a grossa água salgada só faz confundir
indelével, imaginável.
em outro lugar tentaríamos outras coisas
mas aqui não se parece,
logo depois que passamos tudo é
rasgado, inadvertido.
debaixo disso tudo resta algum rosto
agora mesmo vi, mas não me lembro
meu ou seu, o sentimento oposto
apesar de levantarmos todo dia
(e ver sóis e luas)
como sobreviventes.