quarta-feira, julho 26, 2006

ANIMAL PLÁSTICO



Debaixo da mesa, trilhando o futuro. Saí, mijei no escuro, mochila nas costas, esse é o mundo, esse mundo!
“Eu vim para que todos tenham vida, que todos tenham vida plenamente”. Atrás do girassol, perto do poço, foi ai que percebi que era lúcido e são e que ficaria como hoje: maluco, doido, doidivanas, louco, às vezes iracundo. O galo “cantou” às duas e meia da madrugada, bom, havia dias que ele “cantava” às duas e meia da tarde. Estava na fazenda de minha avó há uns dias, aprendi logo que a água é fria e quando você ri é mais fácil. Não pude ir embora de lá como queria, mal me sentia à mesa olhando todos me olhando, sentados naquelas cadeiras. “Pára, respira mais, seus olhos ainda não enxergam.”
Cobicei a empregada jovem e peguei manga do pé, mas te olhava e sempre, sempre como* o barulho de fita cassete, te lembrava. Me juntei aos mais novos, nós quatro fomos matagal adentro, apostamos corrida, se perdemos, me assustei com o rosto do mais novo: Ele se assustava com o homem ali na frente, sem uma orelha. Nós corremos. Se encontramos. Aquela mulher olhava pra mim severa, quando estava distraído me batia, um tapa, de chofre, na testa. Todos aqueles mosquitos e abelhas me vinham à noite. A rainha delas, enorme, batia as asas e eu parava de pensar, depois pensava em números: 1,13,1,2,1; depois dormia.
--- Você tem nome?
--- Tenho, me deram quando tinha três meses, é Jofre.
Ele falava mais bonito que eu, era mais bonito, tinha nome melhor. Odiava-o e gostava dele. Mas ele não tinha você, meu trunfo, eu tenho inveja minha querida, eu tenha esta discórdia na linha.
--- Meu é Dominico.
Lembra que quebro sempre a história e que disse você pra mim: “Por que não te chama Carlos?”. E eu Dominico!
Segue a continuação: Decidi deitar ao sol, braços cruzados embaixo da cabeça, sentia um pouco de dor nela. O galo apareceu, me olhou daquele jeito de lado, sem sentido. Levantou a cabeça, abriu o bico, balançou leve- leve a cabeça e soltou aquele grito esganiçado, olho fechado (só via um). Aquilo foi plástico, sintético. Meu braço vi como se fosse de um boneco; vi pessoas se tornarem bonecos. Como algo ineludível, por momentos me calei pra mim, me tornei tanto mais Inexpressivo. Achei-me só, em intermitências de memória e inexpressividade, me senti isso, isso desde sempre. O galo “cantou” mais vinte três vezes e era cego de um olho.

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