quarta-feira, julho 26, 2006

Um conto: introdução e suas três partes:



Os Objetos Sem Motivo

Na Carta


O escritos julgam-se cartas apáticos-apáticas, respectivamente : escritor e carta. Por exemplo, lembra que você sempre quis escrever isso?
Senti-me mal: alguém disse que escalavrou a mão com uma faca de cozinha, olhou mais para mim bem nos olhos, disse mesmo: “Escalavre a mão, pra ver er sentir.”, foi assim, com esse erre depois do e, eu não poderia rir, há palavras que mesmo erradas dizem, não posso dizer que palavras erradas digam muita coisa. Há nos tons pardos a fatalidade da vida, quem ao menos disse isso? Fecho aspas sem abri-las. ”.
Fechei a porta e veja você, quem está com tanto furor tentando entrar? Ah, como me lembro de você! O que me enfurece é escutar tanto o que eles aqui dizem pra mim, e o que mais? Estão brincando! Dizem que as paredes têm mais força e armadilhas que cadeiras!... Como você é linda, palavra! Que posso falar do dia de hoje, vou te contar que abstraí algo, como digo, sou importante. Primeiro vou dizer que mudei um poema do Drummond, coloquei meu nome, porque é meu! E além do mais: Abstraí. Toda minha idéia é horrorosa, a idéia de duas cadeiras uma em cima da outra, tudo isso faz parte de uma história, essa:
Vejo rostos, todos de perfil, as silhuetas: nariz, boca, queixo e a curva dos olhos. Sempre coisa de criança. Parecia que viviam, eram silhuetas humanas feitas de sombra de vários objetos. Isso mesmo, como aprendi. Nem me lembro.
--- Quem é que vai escolher?
Sempre escolhe o mais sabido.
Eu. Sou crescido na angústia, cala! do egoísmo, satírico. Crio. Sou descritivo.
A história:
O barulho da fita cassete, fita já velha, toma chá de fita, toma! Era voz severa. Agarravam-me e não me deixavam sair. A chuva tinha transformado a terra em barro, não se escorrega no lodo, não cai, tem mais gente. Como num oásis, água e o verde; paredes dos vizinhos cercando, para dizer que ali fora, a cidade. Isso é como memória. Nem lembro, só vi os olhos ariscos, não juntei barro, mesmo se juntei, marquei o barro. O sol faz os olhos quase fecharem, por exemplo, depois que a chuva acaba, se ele aparece. Mas sou um anti-exemplo.
Tente ouvir sempre ao fundo, como música, o barulho da fita cassete, a fita voltando, retrocedendo, indo. Havia tanto frio, o céu nublado, eu com uma vara matava mosquitos que pousavam na árvore; matava um, eles fugiam; tempo depois voltavam, matava mais um. Não pode ter acontecido isso, no frio não tem mosquitos, deve ter sido no calor, foi no calor, moscas no calor.
Brincava ridículo e sabia que me olhavam. Matei tanto daqueles insetos que não dormi por causa de suas patas, trouxeram todos eles: traças, moscas, larvas, lagartas, baratas; todos rastejantes, sedentos. “Não pára, o veneno é fraco!”, as abelhas, elas voavam.

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