quarta-feira, agosto 09, 2006

Mãos: 12:25









Interno. Mostrando só o rosto. Olhos fechados. Abrem-se os olhos. Mostra-se os óculos entre a mão direita. Os óculos caem. Ele pisa nos óculos, ri pouco. Repara na pia metade branca, metade prata. Sai correndo da casa.


Vê ele lateralmente. Ele corre e vai suando, como está parecendo, flui. Mas é terror que se vê em seu rosto e é. Queda e sangue. Sangue na calçada. 12:25hrs. Rua cheia. Ajuda. Ajuda ajuda. Toda a ajuda em sua possibilidade veio. Quebrou dois dedos da mão direita; forçou mais a mão esquerda, canhoto, na hora da queda e a quebrou inteira, unha saída quando tentou levantá-la. Com essa mesma mão, deu um tapa no bombeiro que queria ajudá-lo. Ajuda. Um outro o segurou por trás. O detiveram. Ele gritou, era dor e pânico. Loucura. Mesmo porque, te prendem. Um homem da confusão saiu e – dir-se-ia louco? - lhe meteu um soco, não havia óculos, não. Ele desmaiou. O homem tentava ajudar.
Nem tudo é branco no hospital. Quem conversa com ele, poderia testemunhar que ele disse: "vim é numa ambulância sem ninguém, ninguém dirigia.", e assim era se acreditassem. Agora não tem sol, mas não é noite ainda
As mãos enfaixadas, engessadas; o olho vermelho e com pontos, roxo mesmo é difícil. Sua mágoa é profunda com a unha que não está mais ali e lhe causa dor no dedo. Toma coragem, encosta o braço na enfermeira e diz:
- Não participei de guerras, não fui gente de nenhuma batalha, não fiz revolução. Não sou revolucionário.
- Não se preocupe, você não vai morrer, disse a enfermeira.
Ele pulou semana depois um muro, ainda não sei porquê.



Pela janela ele, descobrindo os óculos, no chão. Viu também a pia. Prata e branca. Sabe-se que sem as mãos não se ganha guerras e revoluções. Nota-se o olhar conciso frente ao espelho, que ele não queria mais. Espelhos, ah! Mas uma vez o mundo não está aqui. Depois os relógios marcam 12:25. Ele não corre.
27/jun/2006


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