quarta-feira, agosto 30, 2006

MINIFESTO

ave a raiva desta noite
a baita lasca fúria abrupta
louca besta vaca solta
ruiva luz que contra o dia
tanto e tarde madrugastes

morra a calma desta tarde
morra em ouro
enfim, mais seda
a morte, essa fraude,
quando próspera

viva e morra sobretudo
este dia, metal vil,
surdo, cego e mudo,
nele foi tudo e, se ser foi tudo,
já nem tudo nem sei
se vai saber a primavera
ou se um dia saberei
quem nem eu saber nem ser nem era

Paulo Leminski

sobre filmes

um pequeno texto.

Encostando-se nos filmes, via sempre a sempre uma regra. Mas quem disse que sobre essas regras não se fala, perguntou. E que chamado à razão: teve de ser menos febril para constatar que as regras não tinham a ver com filmes, nem essas, não essas. Ganhando-se um prêmio pelo filme. Pode notar que a mão percorre o pequeno troféu como tocam-se os amantes e ao mesmo tempo que se agradece as regras, menospreza-as. Por assim dizer não é exatamente igual. Quando menospreza as regras antes e não se ganha o prêmio, ou ainda, quando se está fora da regra. E que moeda teremos para tirar a sorte. Salvo aquela encostada , também, ao filme. 21/Ago/06

sexta-feira, agosto 25, 2006

O título dos Planetas?

planet´s Earth
Mas não é uma história
mais eu não sei inglês

24/Ago/2006

Hoje Plutão não é mais planeta. Decidiu-se isso numa convenção de astrônomos em Praga, na República Tcheca. Este ex-planeta, agora Planeta-Anão não é dono de sua órbita, nunca foi.
A atmosfera não é a mesma
Pluto não é mais planeta
oito planetas neste sistema solar
Todo um sistema neste planeta.
Os planetas pensam
"A terra que me escolhe","eu tão grande","meu anel","meu".
Não sei mais coisas tantas sobre esses planetas. Astros-reis, estrelas, planetas, planetas-anões, estão por aí, junto com a mesma de sempre poeira cósmica e "algum" que nos visite.

E a Terra gira tão rápido!

quinta-feira, agosto 24, 2006

O Que Me Incomoda à Noite

Tinha esse cachorro que morava ao meu lado, separados por uma parede de madeira. O seu dono me cumprimentava todos os dias pela manhã, e eu ria ao lhe estender a mão, bom dia, tudo bem? Sim, senhor. Dois pobres agindo mais decentemente do que o dinheiro que tínhamos. E a casa que partilhávamos nos permitia, não só termos modos piores como, juntos, xingarmos o proprietário, tão pobre como nós, mas xingá-lo, do quê, não seria problema, tudo bem que sem um sentido próprio, tudo bem.
Esse cão ocupava um lugar junto à madeira, um lugar pequeno e lá que enchia o saco. Estragava-me todo e qualquer verso, parecia até dinheiro. Arranhava, noite pós noite, a parede, um dia ele vai furar, vai fazer um buraco nessa madeira e vou matá-lo. Dava socos na parede, gritava pára, mas não adiantava. Noite pós noite, cansado, só conseguia dormir depois, depois desse cão adormecer e eu quase juro que poderia ouvir a respiração desse cão dormindo, fundindo-se com o ronco do dono; de manhã, poderia também, depois de lhe cumprimentar, olhá-lo bem na cara e dizer-lhe: Meu Deus, esse cachorro não se parece nada com você! Talvez me respondesse, mas quem gosta quando alguém lhe responde algo que você afirmou e que não precisa de resposta.
Esse cachorro não me olhava, nem quando lhe trazia um pouco de ração, talvez receasse essa ração, eu também prefiro arroz e feijão, apesar de achar esta última palavra tão feia como o cão
O cão rosna e ladra. Late e late, via todas essas expressões, mas rir não dá, esse cão não era humano.
Acordava de madrugada e ouvia esse cachorro escavar inutilmente a parede. Por décadas se revezaram cães e cadelas a escavar esta parede, é claro que não. Só esse cachorro e ele fazia o barulho de um único cão. Mas nunca reclamei ao seu dono, vai saber porquê.
Um dia com meu cigarro quase caindo da boca ainda apagado, vi o dono brincar com seu cachorro e o cachorro retribuir-lhe com lambidas, mas sou eu que escuto toda noite na tentativa de achar outra coisa.
Noite. O cachorro não pára de fazer barulho, como se cavasse a parede. Nunca tentei entrar sub-repticiamente no outro lado, o lado do dono, para ver o estrago que o animal fazia. E essa noite esse cão cavava, como nunca; ouvia a madeira estalar; latidos animados; levantei um pouco, sentado na cama; ar frio; latidos e latidos.
Esse cão rompera a madeira, entrava agora no meu quarto, vi a parede esburacada. Latia como nunca; corria pelo quarto; cheirava. Esse cão, esse cão das noites, ele que cava e escava sem pretender o futuro. Esse cão Quincas Borba que me enlouqueceu noites pós noites havia conseguido!
A porta que separava o meu lado do lado dono do cão abriu. Saiu o dono de lá, passando a mão pelos olhos e a outra tapando um bocejo, acabara de acordar. Ajoelhou, vem menino, pronto! Vem! O cão correu para seus braços, feliz, lambeu-o, latiu amigavelmente. Você conseguiu, menino!
E o dono estava mais presente, sempre, na tarefa de seu cão, mesmo dormindo, do que eu, que o escutara todas as noites. O dono ria por seu cão, que latia por ele. Eu só virei, abaixei e adormeci muito rápido.
O cão e seu dono foram embora, fiquei, eu, com meus livros e esse buraco, pretendo consertá-lo. Quando? Hoje mesmo se for capaz. Hoje vou ter uma noite tão boa e quieta que poderei dormir em paz. E esse cão e, essas coisas, penso: Nós vamos tão surtindo àquele efeito.

21/Ago/06

terça-feira, agosto 22, 2006

balada do velho roqueiro

O rock que eu ouvi
não falava disso,
por que era de um velho
e que eu não conhecia,
a música não entendi.
e o velho, ali no palco.
bêbado, ele parou e
não tinha mais banda.
disse que não cantaria.
que compor não compunha.
e que velho, eu sou velho.
Alguém gritou se ele queria
uma gilete, respondeu que
a barba não fazia há meses.
e seus olhos e partituras não
se viam. brigava com o guitarra.
aprendi, disse, que sou inerte, baixo.
Fraco.fumo muito. perdi ela.
O velho riu, era preciso gritar
ele: Sou uma tartaruga.
e cantou, eu não pude
t-a-r-a-n-t-a-t-á
que eu vá, ser quem é.
t-a-t-a-r-a-n-t-á
quem vá é que eu ser.
Retiraram o velho.
Alguns riram, e nem houve rock
não na noite que o velho cantou
não lembro o rock, só sei que o
velho roqueiro bêbado não cantou
mais. não o ouvi mais. o rock que
eu ouvi não falava disso. não.
17/Fev/06

sábado, agosto 12, 2006

A Demissão da Funcionária Funerária



Ninguém riu, mas foi quase uma unanimidade intimamente, salvo um garoto e Carlos. Não riam, admiravelmente não riam e poderiam, quando todos os "convidados" do velório chegaram a família se ausentara e não havia ali nenhum amigo tão íntimo que pudesse tomar as dores da possível risada, admiravelmente ninguém ria.
Se rissem, ririam porque o morto, um homem de uns oitenta anos, tinha as mãos sobre o peito, como é sempre, e entre as mãos uma maçã, não dessas pequenas e de várias tonalidades, essa era grande e vermelha, como saída de um conto de fadas, vermelha e com um pequeno cabo que sustentava uma folha verde verde.
Como alguém entrasse pela porta agressivamente, errando o velório que deveria entrar, não olhou por isso o rosto do morto. Só sorriu, abestalhadamente, quando avistou a maçã, automaticamente subiu o olhar para a cara do morto, parou de rir. Carlos ficou sabendo o motivo de todos conterem o riso, não teve como não pensar que "o velho morto ri antes". O sorriso fraco do morto era visível, um sorriso sem mostrar os dentes. Carlos sabia que seu pensamento sobre o sorriso do morto fora infantil e primário, o defunto poderia estar com aquele sorriso por motivos vários: segundos antes de morrer umas cócegas, ou talvez uma piada e o que mais condizia com o sorriso, uma leve ironia. Carlos passou os olhos pelos presentes (o homem já havia saído), todos continuavam quietos, olhando para baixo ou para um lado vazio. O garoto de oito anos brincava com a madeira do caixão. Carlos fechou os olhos, sentiu uma pontada na testa e uma sensação horrível o invadiu: era como se alguém, com seus dedos indicadores apertasse suas têmporas continuamente, com intervalos pequenos; sentou, horrível Ter que olhar toda aquela gente em pé, estranhos uns aos outros, deixando nele a quase certeza que todos ali haviam errado de velório. Tomou conta dele um desejo desesperado, o desejo da maçã, como ela deve ser banca e suculenta por dentro! E era, lembre-se, essa maçã, agora, saída de um conto de fadas ou filme, era, branca e suculenta por dentro. Sua sede só seria morta depois de uma dentada na maçã, maçã.
Mas não houve tanta angústia como ele imaginou que sofreria. Soou um apito, todos saíram, tristes, para uma sala, um tipo de serviço da funerária, comida e bons sucos. Carlos ficou sozinho, minto, havia a maçã, o garoto escondido embaixo da caixão e o morto, mas Carlos não sabia disso, salvo a maçã; levantou, perto do caixão se deu conto do morto, o olhou. Pegou a maçã, ia saindo, o menino lhe chamou, se olharam, o garoto disse como alguém que lhe conhece há muito: "Eu vi", Carlos sentiu seu coração bater descompassado, se sentiu mal, foi indo para o jardim; Lá fora, aquele vento e a noite o ajudariam a respirar melhor, não, desde de que vira a maçã não a esquecera, a analogia com o desejo sexual lhe fez rir, ouviu o riso como uma bombinha pequena, fraca, mas estridente, se assustou, rir assim. Nesse entre tempo a maçã lhe escorregou das mãos indo ficar quieta e vermelha no chão branco, embaixo de suas pernas; abaixou, sentiu a maçã nas mãos - esquecera o menino -, olhou por debaixo das pernas, sentiu a camiseta ficar molhada e as faces quentes, imaginou ver sentado sobre o próprio corpo, o morto, com aqueles olhos abertos e cabelos brancos e um sorriso. Quase caindo, saiu meio correndo pro jardim, lá sentou num dos degraus de uma escadinha de mármore com a sensação de Ter definitivamente, matado o velho morto, sorriu.
A pressão nas têmporas continuava, sua maçã lhe vibrava nas mãos. O garoto o observava por de trás de uma janela pequena, o vidro o deixava menos branco mas mais pálido, abriu a janela, o olhou, chamou-o, lhe disse:
-- Eu não comeria...
A vontade da maçã era imensa, há semanas não provava uma, não se ouve um menino, ainda mais com uma maçã vermelha de conto de fadas ou filme.
Seus olhos se avivaram, perderam sua palidez interior; nas mãos eletricidade fugitiva, como a avivar-lhe os dedos; na boca, a saliva emergiu, o prazer, o gosto da maçã e nunca aquela fora uma maçã paradisíaca – a sensação nas têmporas cessara -, Carlos gostou de, ali com o vento, a noite e o chão se sentir o único soldado vivo, esperando o inimigo, sem coragem e consciente e gostou também de pensar: "E como se a casca vermelha se juntasse com o meu sangue, a poupa branco com minha pele, estou, invariavelmente, de trás pra frente e todo esse contato criou algo, não sei bem o que é, o que é? Sei só que é violáceo!".
O que faz a maçã em seu peito, o que faz ela em teu estômago? O que não é purificado morre, Carlos, se eu pudesse dizer, é só uma maçã.
Depois da mordida, nas suas mãos, a maçã murchara, não era ela. Dela mais não precisava, levantou, vou embora, viu a maçã caída no chão, deu meia volta, foi entrando devagar na sala do velório, já cheia e quente. Um choro baixo, agitado vibrava na sala, viu que com as mãos nas mãos do velho morto o garoto chorava:
-- Vô, não, vô! Volta, vô!
Na porta de saída olhou para trás, distinguiu pessoas rindo e chorando discretamente. O barulho que ouvia agora todos ouviam, um trator, é, um trator batendo no asfalto, obras. Foi embora, alguém ainda lhe tocou no braço, de olhos chorosos e, "obrigado, aquela maçã era ridícula, obrigado por tirá-la". Descobriu num estalo que violáceo era um ruído, nunca barulho, que existia em todas as suas células. Riu meio decadente, satisfeito, um ruído violáceo. Sou eu.


Dias depois a revolucionária funcionária da funerária foi despedida, mesmo com dois dias de experiência não se pode esquecer que decorar um morto, velho (ou qualquer outro), com uma maçã entre as mãos fere as pessoas, ainda tão Vermelha, chama atenção.
27/ab/2006

quinta-feira, agosto 10, 2006

Isso

Há um limite nisso,
Céu claro, vento sul
O pequeno galho mostra o caminho
O branco de teus olhos acabaram?
Letras dançam a incerteza
Entende o futuro?
" Querida, não espere por mim..."
É isso, o fim passageiro
" Brinde com o senhor..."
Bela letra em tom
de súplica é o que quer!
" O lago, o peixe, sabes que..."
Está tudo calmo, não se
preocupe.
Nobre argumento civilizado
Olha de Soslaio!
" Não pereça...som..."
Honrado cavaleiro,
animou o vento?
"Selo a carta com..."
A tímida morte!
Meu senhor, brindas comigo?
Lindo mar, barulho...
Não digas nada!
Com a espada na mão gritas?
Quer paz ?
"...prefiro a guerra."
Meu padrão.



Isso já é antigo, essas coisas de poesia, num sei se é, acho que esses escritos são meio a meio uma metade, não é poesia, sei lá mesmo. meus quatro pontos:
.... pode ser reticências e depois um ponto final ou o contrário.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Mãos: 12:25









Interno. Mostrando só o rosto. Olhos fechados. Abrem-se os olhos. Mostra-se os óculos entre a mão direita. Os óculos caem. Ele pisa nos óculos, ri pouco. Repara na pia metade branca, metade prata. Sai correndo da casa.


Vê ele lateralmente. Ele corre e vai suando, como está parecendo, flui. Mas é terror que se vê em seu rosto e é. Queda e sangue. Sangue na calçada. 12:25hrs. Rua cheia. Ajuda. Ajuda ajuda. Toda a ajuda em sua possibilidade veio. Quebrou dois dedos da mão direita; forçou mais a mão esquerda, canhoto, na hora da queda e a quebrou inteira, unha saída quando tentou levantá-la. Com essa mesma mão, deu um tapa no bombeiro que queria ajudá-lo. Ajuda. Um outro o segurou por trás. O detiveram. Ele gritou, era dor e pânico. Loucura. Mesmo porque, te prendem. Um homem da confusão saiu e – dir-se-ia louco? - lhe meteu um soco, não havia óculos, não. Ele desmaiou. O homem tentava ajudar.
Nem tudo é branco no hospital. Quem conversa com ele, poderia testemunhar que ele disse: "vim é numa ambulância sem ninguém, ninguém dirigia.", e assim era se acreditassem. Agora não tem sol, mas não é noite ainda
As mãos enfaixadas, engessadas; o olho vermelho e com pontos, roxo mesmo é difícil. Sua mágoa é profunda com a unha que não está mais ali e lhe causa dor no dedo. Toma coragem, encosta o braço na enfermeira e diz:
- Não participei de guerras, não fui gente de nenhuma batalha, não fiz revolução. Não sou revolucionário.
- Não se preocupe, você não vai morrer, disse a enfermeira.
Ele pulou semana depois um muro, ainda não sei porquê.



Pela janela ele, descobrindo os óculos, no chão. Viu também a pia. Prata e branca. Sabe-se que sem as mãos não se ganha guerras e revoluções. Nota-se o olhar conciso frente ao espelho, que ele não queria mais. Espelhos, ah! Mas uma vez o mundo não está aqui. Depois os relógios marcam 12:25. Ele não corre.
27/jun/2006


sábado, agosto 05, 2006

que

que hoje é sábado se sabe.
sabe também mais coisas
explica-se regras
muda um
sunday morning novamente
rola a bola pro gol
mede a teoria novamente
pat sematery
de todos os casos:
ocioso,
por que os loucos haveriam de se cansar?
- tomates mofados em esquinas-
vá ver se estou lá na
esquina. quem?
disse isso.